Nossos botecos e botequins
Toda regra tem que ter uma exceção. Não é o que dizem?
Vamos, então, tratar de duas “regras” e de suas – sempre bem geladas – exceções nesta postagem especial sobre os pontos de encontro mais populares da nossa mais-que-linda São Pedro da Serra: os botequins.
A primeira regra garante, meio brincando, meio dizendo a verdade, que todo dono de botequim autêntico – aquele pé sujo de respeito – é mal-humorado. A segunda diz que aqui, em nossa mais-que-linda vilinha só tem alta gastronomia e, por tabela, a comida é cara.
Comecemos por essa última.
São Pedro tem restaurantes de gastronomia top de linha? Tem. Mas é uma vila cara? Só se você não a percorrer a pé. Apenas de botecos temos 11 opções!
De variados estilos, eles estão distribuídos ao longo da nossa estreita rua principal de um quilômetro e meio. Agora, um aviso: Nem todos gostam de ser conhecidos como boteco, botequim, ou mesmo como bar. Então, vá com calma…rs.
De todo jeito, essas casas, querendo ou não, fazem parte da grande, animada, barulhenta e tradicionalíssima família dos pontos de encontro onde cerveja gelada não pode faltar e o resto – simpatia, decoração, cardápio variado… – é o resto.
Em São Pedro da Serra, nossos botecos podem ser divididos em cinco categorias: os de “campo”, os de “cerveja & petiscos”, os de “cerveja-e-olhe-lá”, os “boteco & charme” e os de “frango assado & cerveja”.
“E a tal regra do dono mal-humorado?” cobra o leitor mais atento. Eles estão espalhados por todas essas categorias. O que vira uma terceira regra e, portanto, vai ter direito a uma exceção especialíssima.
Falo dela no fim deste texto.
Atrás do balcão, barba por fazer – ou até bem escanhoada –, camisa meio aberta, um tanto suados, esses valentes e carrancudos proprietários de botequim, que aturam bêbados chatos quase todos os dias, são os fiéis guardiões de duas coisas fundamentais: que a cerveja esteja gelada e que o estoque esteja repleto de marcas populares, com bom preço. Vá falar em artesanal com um deles… É quase como xingar a mãe!
Feita essa longa apresentação, vamos conhecer os botecos de cada categoria.
BAR DE CAMPO
Temos três deles. O bar do São Pedro F.C., o do Estrela do Mar F.C. e do Bocaina F.C. Sim, é isso mesmo que você acaba de concluir. São chamados de bar de campo por estarem ligado a um campo de futebol.
Bar do São Pedro F.C. – O mais tradicional de todos, está para fazer 100 anos. Fica bem na primeira reta, entre a praça do Coreto e o pé da ladeira que leva à capela de São Pedro. Basta cruzar o portão e caminhar 20 metros até quase a beira do gramado e você chega a um espaço amplo, com mesinhas, sinuca, totó e até churrasqueira. No momento, quem tem o “passe” do bar é o Roberto Calazans, um especialista em comida de boteco e cerveja bem gelada. Com fama de fazer deliciosos caldos de mocotó, torresmo e pastel de jiló, no Bar do Campo do São Pedro ele mantem a TV sempre ligada em algum jogo e, quem vai, adora é claro falar de futebol. Neste domingo, por sinal, haverá um clássico no campo, envolvendo duas potencias rurais. É que o São Pedro recebe o arquirrival Estrela do Mar. Vai ser uma loucura…
Bar do Estrela do Mar F.C. – Numa posição elevada em relação ao gramado de um lado, mas ao nível da rua, do outro, o Bar do Campo do Estrela do Mar fica no início do Largo que leva o nome do clube e, desde o início de 2024 atende pelo nome de “Estrela do Bar”. É possível tomar uma bebida e comer um petisco em pé, diante do balcão, ou escolher entre duas varandas. A primeira é interna e estreita, mas tem vista para o campo, o que atende bem a quem vai para assistir os jogos e não quer se distanciar muito do freezer… Há ainda um novo e espaçoso deck de madeira, voltado para a rua, que é para quem quer ver e ser visto, e jogar conversa fora. Para quem está ali não adianta perguntar quanto está o jogo, nem quais são os times. Neste momento, o passe do bar está com a Fernanda e o Eric que, garantem, vai ter sempre, além de cerveja gelada, vários petiscos, como o pernil desfiado, as iscas de tilápia e caldos deliciosos. O casal também tem mantido uma boa programação musical e tem dado suporte para uma moda que só faz crescer na vila: a das festas de aniversários abertas.
Bar do Campo do Bocaina F.C. – O mais rural dos clubes de São Pedro, tem seu campo em um vale a cerca de três quilômetros do centrinho da vila, ladeado por encostas verdes e plantações. O Bocaina não tem alambrado e, por isso, é uma excelente opção para famílias deixarem as crianças soltas enquanto aproveitam a cerveja servida pelo João Osvaldo, responsável pelo bar. Os frequentadores garantem que tem cerveja gelada, cachacinhas diversas e tira-gosto. Funciona sábado e domingo e, às vezes, dia de semana, também. Mas é preciso atenção: quando há algum clássico regional, seja no Estrela ou no São Pedro, e os moradores do bairro se deslocam para o centro da vila – como aconteceu quando fui fotografar o bar – a chance de o próprio Osvaldo não estar lá e de o visitante, por isso, dar com a cara na porta fechada é imensa…
CERVEJA-E-OLHE-LÁ
Aqui tem hora certa para abrir e fechar. Pedidos extraordinários provocam caretas e levam, de resposta, um “não” daqueles bem redondos. O dono não está nem aí se você está com fome. É um bar para quem gosta de beber cerveja popular gelada, trocar dedos de prosa e ver a vida passar. Ah! E é aqui que você deve lembrar de não pedir cerveja artesanal. Nunca! Tínhamos dois bares nesse estilo. Mas, hoje, estamos reduzidos a um único exemplar, que todos cultivamos com o afeto e respeito que merece o mais antigo boteco da vila em funcionamento direto.
“Bar do Borra” – Hernani Borret (ou Borra) é o proprietário do boteco. Há uma mesinha de sinuca do lado de dentro do estabelecimento de paredes brancas, três ou quatro conjuntos de mesa e cadeiras na varandinha, bem rente à rua, e só. O proprietário é um sujeito alto, simpático, mas sem vontade alguma de atender clientes cheios de noves-horas. Ele é o que é. O bar tem o que tem. E ponto final. Quero beber, diz o freguês. Tem cerveja geladinha,, ele responde. Quero algo pra comer. Hum… Tem uns pacotinhos com salame ou de batatinhas fritas. Tem mais alguma coisa? NÃOOOOO.
FRANGO ASSADO & CERVEJA
Localizados nos extremos da vila – um pouco antes da praça e outro, lá no Largo do Estrela – temos dois estabelecimentos que garantem aqueles cheirosos frangos assados de fim de semana: um serve aos sábados e domingos e, o outro, apenas aos domingos. No resto da semana, o ponto que fica antes da vila é também um mercadinho, e o do largo, um bar e restaurante. E sempre tem cerveja gelada em qualquer um dos dois.
Será que Tem? – Tem. Sempre tem. O mercadinho, localizado perto da nova pracinha de boas-vindas de São Pedro da Serra, pouco depois da entrada da Estrada Manoel Knupp (ou Rua das Caracas) fica num cantinho da estrada, à esquerda de quem está indo para a pracinha do Coreto. O atual dono é o Fernando. Um boa praça. Não é um boteco, propriamente dito. Nem quer ser. É uma mercearia de roça, que atende apreciadores da geladinha enquanto o frango roda e roda. Tem apenas uma mesinha, na sombra, onde quem chegar pode sempre ter um dedo de prosa com o Varley que usa o ponto de base para seu serviço de entrega de aipim descascado, pré-cozido e congelado.
Paradinha – Bem no “meião” de São Pedro da Serra, diante do Colégio Estadual, fica o conjunto de lojas conhecido como “Empório Ulyana” e, no cantinho direito dele, meio escondidinho, fica o Paradinha, onde o frango assado aos fins de semana é de cair o queixo. O Paradinha tem almoço, lanche, petiscos e, claro, cervejinha gelada, vinho e mais.
BOTECO & CHARME
Essa é uma categoria nova, que vem crescendo. São cantinhos na vila que se tornaram bem mais do que um “simples” botequim. Hoje temos três deles. Dois perto da praça e, o último, lá no Largo do Estrela, no fim da rua principal. Vamos de trás pra frente?
Café Coragem – O bar, que ocupa o espaço que por décadas pertenceu ao antigo Boteco do Franz, fica no Largo do Estrela, ao lado da padaria. Tem uma varandinha voltada para a rua, um quintal e, também mesas na parte de dentro. As meninas que cuidam do ponto mantem uma programação cultural intensa, com vários shows de forró, rodas de samba e mais, muito mais. O Coragem também criou uma iniciativa bem bacana, o “Pega no Murim”, onde as pessoas deixam o que não precisam mais e pegam o que acham que lhes serve.
Boteco Babalotim – Na casinha de paredes brancas e janelas vermelhas onde havia um restaurante português agora há esse boteco tipicamente carioca, com petiscos que não podem faltar nos melhores botequins do Rio, como moela, rabada, torresmo, jiló recheado e mais. Rodrigo Carvalho, o Biro – um dos fundadores do grupo Galocantô – e sua esposa, Lúcia Sá, a Sassá, se mudaram para São Pedro da Serra na pandemia, gostaram, ficaram e são os idealizadores do Babalotim.
Espaço Solar – Cantinho novo, com menos de um ano, esse espaço aconchegante e descontraído vem florescendo na rua que sai ali da Pracinha, a menos de 50 metros do Coreto. Sol é a proprietária, que faz o que pode para deixar os clientes se sentindo em casa. Há cervejas sempre bem geladas, aperitivos e caldos deliciosos. O filho e um sobrinho as vezes também estão por lá dando uma mãozinha. E ainda tem o Tião, com seus causos e duas especialidades que ele traz da vila vizinha (Santo Antônio) produzidas por seu irmão, o Neu: uma cachacinha danada de boa e o licor de pimenta. Os clientes vão uma vez, gostam, vão de novo e novo e, quando se tornam “de casa”, começam a ganhar mimos da Sol como uma dose ou outra desse licor que esquenta a alma e adoça o coração.
CERVEJA & PETISCOS
Essa é a categoria com o maior número de integrantes. São cinco bares, sendo quatro de rua e, um deles, num sobrado. O Bar do Campo do São Pedro, por abrir quase todo dia e não depender dos jogos para ter sempre o que comer e beber, tem um pezinho dentro desse grupo também. Mas, como típico bar de campo, não seria justo ficar nos dois. Como acontece nas outras categorias, esses são botequins que não se declaram como tal. Ora são mercearias, ora bares, ora mercadinhos.
Roberto & Eliana – É o ponto de encontro de São Pedro. Está sempre aberto e sempre com alguém nas mesinhas colocadas do lado de fora da Mercearia. O ponto é um tanto caótico, por estar na esquina mais movimentada da vila e por causa dos caminhões de entrega que atendem aos estabelecimentos próximos. Mas ninguém parece ligar. É famoso por ter sempre a cerveja mais barata. Os petiscos vão depender do que a Eliana fez naquele dia. E as mãos dela são de fada nesse quesito! A carne de porco é de fazer suspirar. Feijoada, rabada, torresmo vão saindo em dias alternados e é tudo muito gostoso.
Bar da Zenilda – Uma das três mulheres a emprestar seu nome para um ponto de encontro de cervejeiros e petisqueiros, o Bar da Zenilda fica meio escondidinho, sob uma pequena marquise, no Largo do Estrela, entre a vidraçaria e o depósito de bebidas. O forte da Zenilda é o seu bolinho de feijoada. Além, claro, da cerveja gelada. As mesas ficam espalhadas pela varanda, um pouco acima do nível da rua. O que permite ver bem mais do que ser visto.
Barzinho da Clemilsa – Fica na Estrada Manoel Knupp (também conhecida como Rua das Caracas). É uma pequena venda, que abre praticamente todos os dias, com raras exceções, quando acontece alguma coisa. Tem cerveja gelada e, quando a dona não prepara algo especial, tem sempre salgadinhos e outros petiscos prontos de mercadinho. Fica depois da Igrejinha Cristã, para quem segue em direção da Bocaina. Mas é só perguntar que todo mundo conhece a Clê e o Valter! Ah, pra quem gosta de caminhar por esses lados, é a única vendinha no caminho. Funciona quase que como um pit-stop para os muitos moradores e visitantes que curtem fazer a volta de São Pedro (um circuito de caminhada leve, de cinco quilômetros, que percorre o perímetro “urbano” da vila)
Venda da Lúcia – Aprenda antes de ir: Não é boteco. Não é bar. Não é vendinha. É Venda da Lúcia. Se quiser cair nas graças da proprietária é preciso acertar o nome de primeira. Fica aí, nessa casinha, a exceção especialíssima de que falei, lá no começo do texto, à regra de que todo dono de boteco ser mal-humorado. E aqui também fica a melhor combinação de cervejas variadas – e sempre geladas! –, petiscos deliciosos, cuidado com a aparência e com a limpeza. As mesinhas, sempre cobertas com paninho quadriculado e vasinho de planta, estão colocadas sob uma pequena e deliciosa varanda, ou do lado de dentro do portãozinho, perto da “Janela do Amarildo” (como foi batizada a janelinha lateral onde o dono de um mercadinho próximo faz questão de ser atendido quando vem buscar sua cerveja). Há frequentadores habituais, de carteirinha, como em qualquer boteco (Ups! Venda, venda…) de respeito. E esses frequentadores acabam criando dias e tardes especiais. Ora dos Pet Lovers, ora das cantoras de karaokê. Tem de tudo. Ou vai voltar a ter, logo que a pandemia estiver sob total controle.
Estão aí, apresentados, os botecos de São Pedro da Serra. Em todos, você irá encontrar – dentro e fora do balcão – o pessoal de raiz, os transplantados (com décadas de vila) e os “de fora” (que criam modas e mantem o frescor de São Pedro da Serra). Nas mesas, sempre muita risada, muita fofoca, mais risada, e quase nenhuma informação confiável sobre o que realmente é viver aqui, na mais-que-linda. Divertidíssimo!
Obs: Essa matéria não seria possível sem a colaboração de uma especialista no assunto, Sheila Fintelman